A primeira pergunta que me fizeram sobre filosofia foi exatamente para que serve a filosofia. Não tinha nenhuma resposta tão inútil quanto a pergunta para dar ao interlocutor, mas isso despertou-me a atenção num ponto muito sério que não é assim tão difícil de se encontrar, o desconhecimento e o preconceito com algumas matérias do conhecimento.
Ninguém nunca pergunta para que serve a matemática, ainda que não sejam tantos que conheçam matemática o suficiente para poder perguntar, essa grande maioria não sabe para que serve a matemática, mas supõem que sirva para alguma coisa. Teorema de Pitágoras, para que serve? Matriz e determinante, serve para quê? E os números complexos? E, no mais, toda a matemática que precisamos saber está na calculadora que usamos.
Então, o que você está aprendendo de filosofia? Grande pergunta! Saquei Parmênides: “o que é, é e o que não é, não é”. Precisa estudar para aprender isso? Falemos então de Parmênides.
Ouvi esse nome pela primeira vez no primeiro ano da graduação em filosofia, 2004, numa matéria chamada História da Filosofia Antiga, em que estudávamos Teeteto, um diálogo de Platão, sobre o conhecimento. Era engraçado Sócrates sacando do nada aquelas perguntas que ninguém sabia responder. “O que é o conhecimento?”. Com isso, o sábio filósofo colocava em saia justa todos os seus interlocutores, quando estes achavam que sabiam as coisas que eles achavam que sabiam. Fiquei vidrado nessa dialética e achava que ela era tudo. Mas tudo o mais ainda estava por vir. Mas foi interessante para perceber que havia muitas perguntas aparentemente simples que não fazíamos, talvez por acharmos simples demais essas perguntas, e isso era filosofar. Falo depois do Teeteto e da pergunta sobre o conhecimento. Foi aí que ouvi falar de Parmênides pela primeira vez, nesse primeiro ano do curso. E, é claro, um verdadeiro desfile de nomes ilustres e desconhecidos, em poucos meses de aula, passaram para meu caderno de anotações: Protágoras, Demócrito, Leucipo, Anaxímenes, Anaximandro, Tales, Pitágoras, Heráclito, Zenão, Xenófanes, Empédocles e outros.
O meu amigo do trabalho, voltemos a isso, ao ouvir uma expressão que se pretendia filosófica, “o que é, é e o que não é, não é”, relutou muito para aceitar e demorou um certo tempo para aceitar que a questão, dita por Parmênides há uns 500 anos antes de Cristo, era sim, e muito, filosófica. Mas eu o deixei curioso por um certo tempo, ele sempre repetia a frase, até que um dia se deu conta de que a questão não é mesmo assim tão complicada, mas que só os filósofos, com o olhar atento e os sentidos aguçados, é que fazem esse tipo de pergunta. Meu amigo estava tendo uma “aula” de filosofia e não percebia.
Quando Parmênides diz que o “que é, é”, está afirmando que o ser é, pode ser pensado e nomeado. E quando diz que o “que não é, não é” está dizendo que o não-ser não pode ser pensado e nem nomeado. Parmênides já lidava com o que depois foi chamado “ontologia”(1), ou o estudo do ser. Afirmava, lá naqueles tempos idos, o princípio da identidade (A é A) e o principio da não contradição (A não é B), dois pilares da lógica que ia se desenvolver alguns séculos depois.
Falaremos mais de Parmênides, quando falarmos de Heráclito e de outros pré-socráticos.
(1) segundo o aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das propriedades mais gerais do ser, apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo particularmente, ocultam sua natureza plena e integral; metafísica ontológica. No heideggerianismo, reflexão a respeito do sentido abrangente do ser, como aquilo que torna possível as múltiplas existências [Opõe-se à tradição metafísica que, em sua orientação teológica, teria transformado o ser em geral num mero ente com atributos divinos.
Ninguém nunca pergunta para que serve a matemática, ainda que não sejam tantos que conheçam matemática o suficiente para poder perguntar, essa grande maioria não sabe para que serve a matemática, mas supõem que sirva para alguma coisa. Teorema de Pitágoras, para que serve? Matriz e determinante, serve para quê? E os números complexos? E, no mais, toda a matemática que precisamos saber está na calculadora que usamos.
Então, o que você está aprendendo de filosofia? Grande pergunta! Saquei Parmênides: “o que é, é e o que não é, não é”. Precisa estudar para aprender isso? Falemos então de Parmênides.
Ouvi esse nome pela primeira vez no primeiro ano da graduação em filosofia, 2004, numa matéria chamada História da Filosofia Antiga, em que estudávamos Teeteto, um diálogo de Platão, sobre o conhecimento. Era engraçado Sócrates sacando do nada aquelas perguntas que ninguém sabia responder. “O que é o conhecimento?”. Com isso, o sábio filósofo colocava em saia justa todos os seus interlocutores, quando estes achavam que sabiam as coisas que eles achavam que sabiam. Fiquei vidrado nessa dialética e achava que ela era tudo. Mas tudo o mais ainda estava por vir. Mas foi interessante para perceber que havia muitas perguntas aparentemente simples que não fazíamos, talvez por acharmos simples demais essas perguntas, e isso era filosofar. Falo depois do Teeteto e da pergunta sobre o conhecimento. Foi aí que ouvi falar de Parmênides pela primeira vez, nesse primeiro ano do curso. E, é claro, um verdadeiro desfile de nomes ilustres e desconhecidos, em poucos meses de aula, passaram para meu caderno de anotações: Protágoras, Demócrito, Leucipo, Anaxímenes, Anaximandro, Tales, Pitágoras, Heráclito, Zenão, Xenófanes, Empédocles e outros.
O meu amigo do trabalho, voltemos a isso, ao ouvir uma expressão que se pretendia filosófica, “o que é, é e o que não é, não é”, relutou muito para aceitar e demorou um certo tempo para aceitar que a questão, dita por Parmênides há uns 500 anos antes de Cristo, era sim, e muito, filosófica. Mas eu o deixei curioso por um certo tempo, ele sempre repetia a frase, até que um dia se deu conta de que a questão não é mesmo assim tão complicada, mas que só os filósofos, com o olhar atento e os sentidos aguçados, é que fazem esse tipo de pergunta. Meu amigo estava tendo uma “aula” de filosofia e não percebia.
Quando Parmênides diz que o “que é, é”, está afirmando que o ser é, pode ser pensado e nomeado. E quando diz que o “que não é, não é” está dizendo que o não-ser não pode ser pensado e nem nomeado. Parmênides já lidava com o que depois foi chamado “ontologia”(1), ou o estudo do ser. Afirmava, lá naqueles tempos idos, o princípio da identidade (A é A) e o principio da não contradição (A não é B), dois pilares da lógica que ia se desenvolver alguns séculos depois.
Falaremos mais de Parmênides, quando falarmos de Heráclito e de outros pré-socráticos.
(1) segundo o aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das propriedades mais gerais do ser, apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo particularmente, ocultam sua natureza plena e integral; metafísica ontológica. No heideggerianismo, reflexão a respeito do sentido abrangente do ser, como aquilo que torna possível as múltiplas existências [Opõe-se à tradição metafísica que, em sua orientação teológica, teria transformado o ser em geral num mero ente com atributos divinos.