quarta-feira, 4 de março de 2009

Sobre os espelhos

A casa me acolhe com tudo em seu devido lugar. E sempre há de acolher...
Mais três livros de poesia, Bandeira, Cecília e Neruda (bilingue... uau!), uns trinta ao todo, contando a lírica de Camões e todos os que pude conseguir de Pessoa. Quantos poemas desses monstros terei de ser capaz de ler para conseguir realizar um sarau de poesia?
Escrevi uns dois comecinhos de poemas, com a alma dilacerada de quem tem a mão dura, a imaginação e criatividade bloqueadas pelo viver o dia-a-dia, a inspiração nascida à fórceps, arrancada de dentro do ventre que insiste em fazer um irrecorrível silêncio.
Em dois dias passaram por meus olhos 5343 pessoas, foram mais umas quarenta que trabalharam comigo e mais quatro que trabalham há tanto tempo, tantas histórias de tantas vidas, tantos olhares e tantos corpos, tanto tempo em contato com tanta gente. Se não fosse ao menos divertido, eu já teria parado.
No quarto de hotel (esse não um quarto vagabundo...), o espelho. E meus olhos espelhos diante do espelho, quem sou esse que não mais conheço? Esse que não vê o que vejo e que não vê o que vêem em mim?
Preciso de vinte quilos e trinta cigarros por dia a menos... essas rugas aceito porque as vi nascer, uma a uma, cada uma delas.
Só no espelho vejo como me vêem como sou por fora. Por dentro uma saudade do tempo em que o espelho ainda mentia para mim e eu acreditava nas verdades que me escondia.
A estrada para ir, a estrada para voltar. O telefone num silêncio de mão dupla, se eu deixar de existir esquecerão que existo.
À noite a cidade me recebe com todas as luzes acesas, com todas as portas abertas. À noite eu não durmo, me deixo desfalecer em cansaço sem nenhum esforço, e esgoto-me de desistir de tudo o que nem ainda tentei.
Minhas palavras roçando as verdades mais certas, o cerne de cada questão tão improvável, a distância do que vejo, sonho e sinto do que consigo fingir que sou.
Filosofemos... cada dia somos bem menos do que ousamos ser!

Nenhum comentário: